quinta-feira, 25 de julho de 2013
sexta-feira, 12 de julho de 2013
Sobre a pesquisa
Há muitos anos realizo
uma ação silenciosa: o plantio de frutas, verduras e grãos em terrenos
abandonados ou espaços públicos subutilizados. No dia de São José uso milho que
deve ser colhido em São João[1],
em outros dias planto abóbora, outras vezes feijão, mas o meu preferido é sem
dúvida o maracujá, que aproveita as cercas de arame farpado como estrutura,
trazendo flores lindas ao local, além dos frutos que desaparecem ainda verdes.
Costumo compartilhar esse tipo de exercício com meus amigos e alunos: sugiro
que andem com sementes nos bolsos, multiplicando e potencializando ocupações
silenciosas. Seguindo as indicações de Castañeda:
Primeiro caminhe até tua primeira
planta e lá observe atentamente como escoa a água de torrente a partir desse
ponto. A chuva deve ter transportado os grãos para longe. Siga as valas que a
água escavou, e assim conhecerá a direção do escoamento. Busque então a planta
que, nessa direção encontra-se mais afastado da tua. Todas aquelas que crescem
entre essas duas são para ti. Mais tarde, quando essas duas derem por sua vez
grãos, tu poderás, seguindo o curso das águas, a partir de cada uma destas
plantas, aumentar teu território. (CASTAÑEDA,
1985, p37)
Surgiu a escolha do
maracujá como estratégia estrutural de pesquisa e princípio criativo, as
escolhas dos galhos laterais se referem a projetos de vida e de criação artística
que tenho desenvolvido desde a graduação, dei continuidade durante o mestrado,
nas atividades em sala de aula como professor e pretendo reunir diversos
resultados no doutorado.
Com a pesquisa através do
tempo, percebi que tais construções coletivas possuem em si o poder modificador
da arte, utilizada com diferentes funções, como pode ser reforçado por
Borriaud:
(...) aprender a
habitar el mundo, em lugar de querer construirlo según uma idea preconcebida de
la evolución histórica. En otras palavras,
las obras ya no tienen como meta formar realidades imaginarias o
utópicas, sino constituir modos de existência o modelos de acción dentro de lo real
ya existente, cualquiera que fuera la escala elegida por el artista... El
artista habita las circunstancias que el presente le oferece para transformar
el contexto de su vida (su relación com el mundo sensible o conceptual) em um
universo duradero. (BORRIAUD, 2008, p.12)
E por Canclini:
Em vez de
reproduzir ingenuamente as relações sociais, isto é, reproduzir – mais que o
real – as convenções icônicas que nos acostumam a vê-lo de certa maneira,
trata-se de reproduzir uma arte que
reelabore criticamente o real e seus códigos de representação. (CANCLINI,1979, p.17)
Em
certo momento, o artista passou a interferir diretamente na realidade, em
situações cotidianas, modificando a atuação da arte na sociedade. Com relação a
isso, Cildo Meireles (1981, p. 40)
observa: “Me lembro que entre 1968 e 1970 sabia que estávamos começando a
tangenciar o que interessava; não estávamos mais trabalhando com metáforas
(representações) de situações, mas com a situação mesmo, real.” Acredito que interferir
no cotidiano, aliando elementos artísticos a experiências desenvolvidas em
âmbito acadêmico, com propostas colaborativas na construção de realidades e de
conhecimento científico seja de grande valia para minha pesquisa pessoal, para
disponibilizar conhecimentos adquiridos e para o crescimento da universidade.
[1] Essa foi
uma das ações realizadas em meu trabalho final de graduação: Interferências na
Vênus, onde foram propostas interferências na escultura localizada na frente do
Casarão da Escola de Belas Artes da UFBA. Tudo começou com uma cerca de arame
farpado, colocada em volta do monumento, informando a apropriação do mesmo, as
ações seguiram, uma por semana, finalizando com a plantação de cerca de dois
quilos de semente de milho em todo jardim ao seu redor, numa ilustre referência
à Vênus de Milho.
sexta-feira, 5 de julho de 2013
quinta-feira, 4 de julho de 2013
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