sexta-feira, 22 de julho de 2016

CompArte dia 22 de julho, na Biblioteca da UFBA

ARTES VISUAIS E OUTRAS INTERVENÇÕES

Cristino Pitón

Biblioteca Caravelas 
Ações silenciosas que acontecerão todo o tempo, com os livros e objetos que retiro da biblioteca.

Trata-se de pesquisa em poéticas visuais que visa à criação de dispositivos, como objetos e propostas deflagradoras de ações artísticas coletivas, explorando técnicas e meios diversos, que possam ser geradas e ou usufruídas individual ou coletivamente. Toma-se como ponto de partida pesquisar o formato livro como objeto plástico e dispositivo de participação, visando criar, recriar e expandir a ideia de Livros com diferenciados formatos, funções, tamanhos e materiais, para formar as Bibliotecas Caravelas. Estas Bibliotecas surgem em processos colaborativos, integrando diversos fluxos: criações artísticas pessoais, em coletivos e criações com os estudantes da EBA-UFBA.


CompArte pela Humanidade
Festival de Artes convocado pelo 
Exército Zapatista de Liberação Nacional (EZLN)

Proposta:
Sedes Alternas – Salvador e São Paulo
22 a 24 de Julho de 2016

“Acreditamos”, disse o Subcomandante Insurgente Galeano (antes Marcos) numa 
carta ao romancista mexicano Juan Villoro, “que a possibilidade de um mundo melhor radica fora da máquina (…), e sua possibilidade sustenta-se num tripé (…): as artes, as ciências e os povos originários e os porões da humanidade.”
“Escrevi ‘as artes’”, continua o Subcomandante, “porque são elas (e não a política) as que cavam no que há de mais profundo no ser humano e resgatam sua essência. Como se o mundo continuasse o mesmo, mas com elas e por elas pudéssemos encontrar a possibilidade humana no meio de tantas engrenagens, porcas e molas rangendo mal-humoradas. À diferença da política, a arte não tenta reajustar ou consertar a máquina. Ela faz algo mais subversivo e inquietante: mostra a possibilidade de outro mundo.”
Para os zapatistas, nesta sua mais recente fase de luta, as artes e as ciências são o fundamento para a construção de outro mundo: arma revolucionária nas mãos dos povos originários e de todos aqueles que vivemos e lutamos nos porões da humanidade.
Por isso, o EZLN está organizando dois eventos mundiais nos próximos meses: o Festival de artes “CompARTE pela Humanidade”, do 17 ao 30 de julho de 2016 em Chiapas, México, com a participação de artistas zapatistas, na primeira semana, e de todas partes do mundo, na segunda semana; e o encontro de ciências “@s Zapatistas e as conCIÊNCIAS pela Humanidade”, do 25 de dezembro ao 4 de janeiro, também em Chiapas.
Como parte da iniciativa, lançam o convite para criarmos sedes alternas do festival “CompArte” em qualquer parte do mundo.
Assim nasce a ideia de criar duas sedes alternas do Festival de Artes “CompArte” no Brasil: Salvador e São Paulo. Um encontro de artistas que acreditamos que, para enfrentar a tempestade dos nossos tempos, é preciso sair da máquina e criar outro mundo na prática.

A Tempestade

A ideia do festival surge de uma observação prática e uma reflexão teórica sobre os nossos tempos. Para os zapatistas, o mundo está à beira de uma catástrofe, de uma tempestade. Uma tempestade que já começou. Uma tempestade de morte que se reflete, por exemplo, no ódio e na violência desatada no Brasil pela direita; na brutalidade do narco-Estado no México; no racismo e a intolerância na Europa e nos Estados Unidos; na prisão massiva das populações consideradas “descartáveis”; na privatização de todos os bens comuns; na destruição sistemática de formas não capitalistas de vida; na impensável tragédia dos migrantes no mundo todo; nas guerras genocidas no planeta; no fanatismo e a morte no Meio Oriente e outras partes do mundo; no ódio generalizado; na dor do povo Palestino; na voracidade sem limites do capital; na mentira da “democracia” e do sistema de partidos políticos. Mas, também, no “¡Ya Basta!”, no “Chega!” que se escuta em todo o planeta.
Na virada de 2014 para o 2015, os zapatistas convocaram a um Festival Mundial das Resistências e as Rebeldias em várias partes do México, com a participação de movimentos de muitas partes do mundo, onde a destruição da tempestade ficou evidente nos relatos dolorosos, mas também seu contraponto na forma das resistências. Depois, em maio de 2015, o EZLN organizou um grande evento de reflexão teórica: o Seminário “O Pensamento Crítico perante a Hidra Capitalista”, uma semana de reflexão com a participação do EZLN e de pensadores de muitas partes do mundo.
Ambos eventos (prática e teoria) mostraram a magnitude da tempestade e os muitos braços da hidra. Mas também serviram para refletir sobre a nossa ação, nossa resistência e nossa criação de outros mundos possíveis.


O Muro e a Fenda

Perante a tempestade, vale a pena se perguntar se as mesmas formas de luta de sempre funcionam. Marchas, manifestações, movimentos massivos… No Brasil, a esperança das ruas em 2014 parece ter despencado no abismo do ódio e na crise da “democracia” que vemos hoje. No México, a maquinaria de morte continua incólume apesar das grandes mobilizações dos últimos anos. A primavera árabe resultou, afinal, não ser tão florida. A indignação europeia não deteve a voracidade neoliberal.
“O Sistema não teme os estouros, por mais massivos e luminosos que sejam”, disse o Subcomandante Galeano no primeiro dia do Seminário. “Se um governo cai, há outros em seu armário para repor e impor. O que o aterroriza é a perseverança da rebeldia e a resistência dos de baixo.”
O EZLN sabe disso: décadas construindo outro mundo na prática com perseverança. Sistemas de educação e saúde em todo o território zapatista, sem um centavo do governo; um governo autônomo independente do Estado; um sistema de justiça próprio; sistemas produtivos autônomos; projetos de agroecologia, comunicação, transporte e muito mais.
Com paciência, com rebeldia e resistência, abrir fendas no muro criando alternativas reais. Sem esperar que as soluções venham de cima, de partidos políticos, de “líderes” e vanguardas. Sem continuar acreditando que o sistema, a máquina, pode ser consertada, melhorada. Construindo outra coisa. Já, agora.

O convite é esse: contribuir a rachar o muro com a nossa melhor arma – as artes e as ciências – para, através da fenda, vislumbrar o futuro
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every beginning
is only a sequel, after all,
and the book of events
is always open halfway through

(wislawa szymborska)