Zig Now: uma
poética do desaparecimento
Cristiano Piton
O corpo transborda!
Ele confunde suas necessidades com as potências alheias, seus
limites perpassam os limites do outro. Ele
se esbalda!
O corpo comunica pelo gesto, pela ação, pela beleza e
potência de músculos, formas, pêlos e texturas, o atrito e a fricção, adicionam
suores e cheiros aos sentidos, que se confundem e registram sensações na carne.
E os sons? Estes podem levar-nos aos
locais mais inóspitos, ou aos mais desejados... O corpo é um presente. O corpo
está presente. Ele se utiliza de práticas performáticas e artifícios para dizer
o que deseja que seja dito.
A performance se dá a partir do estado presente do corpo.
Entretanto, sensações diversas podem ser provocadas a partir
da ausência: entre expectativas, irritações e possíveis gargalhadas ou
reflexões solitárias. O estado ausente também pode comunicar. O corpo também
pode comunicar a partir de sua ausência.
O corpo ausente da cadeira ao lado no escritório pode chamar
atenção para sua existência? A surpresa pode surgir a partir de qualquer situação
e tudo pode se tornar o exercício para que outras ações aconteçam. O simples
exercício do desaparecimento pode ser construído no cotidiano e pode servir
como matéria para criação.
O Três Nós Três, coletivo paulista que realizavas ações nas
ruas na década de 60, por exemplo, cobria as cabeças dos monumentos, a cabeça
escondida atraía a atenção das pessoas nas ruas para a existência dos
monumentos... O artista búlgaro Christo costuma “empacotar” lugares e
monumentos, que ganham destaque por suas ausências do cotidiano por
determinados períodos.
O corpo que desaparece dilata o tempo, extrapola o espaço, se
coloca em diversos lugares simultaneamente: entre onde ele deveria estar e onde
ele se colocou.
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